PROJETO DE UM LIVRO SOBRE TURFE E CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE ATUAL TEXTO DE AUTORIA DE
LUIZ EDUARDO LAGES
Bons livros contando a verdade, podem conter críticas positivas ou negativas, mas sempre ajudam construtivamente com qualquer coisa, o mínimo que seja, quando o interesse for mesmo tentar ajudar a mostrar o que, para o autor, parece ir bem ou mal. Porém, quando as críticas forem para mostrar o que estiver precisando ajustar, corrijir ou modificar, são difíceis de serem considerados por qualquer administração. Quem tem o dever de administrar e considerar o que vem acontecendo nem sempre cumpre o que é uma obrigação assumida e deixa que a vaidade acabe prevalecendo, principalmente quando a crítica é pública através de um simples livro ou da imprensa em geral. Lamentavelmente, em países como o Brasil do momento, parece ser assim. Mesmo à distância, mas sempre acompanhando na medida do possível o dia a dia através das diversas opções hoje existentes, dá para sentir o problema por qualquer pessoa mais ou menos esclarecida. A impressão geral é continuar existindo muitos bajuladores, inclusive alguns deles, segundo notícias que chegam de todos os lados, sendo empregados e funcionando com pouca criatividade justamente na mídia, onde, talvez, mais se esteja precisando urgentemente criar algo novo. Pior ainda, quando entre estes mesmos bajuladores de plantão, encontramos também certos diretores remunerados, em atividade nos hipódromos. Neste caso, se for mesmo verdade, a situação torna-se ainda mais grave. É o que especificamente vem sendo comentado sobre o hipódromo da Gávea, outrora o principal salão de honra para recepcionar os mais ilustres visitantes do Rio de Janeiro, sobretudo até 21 de abril de 1960, quando era o Distrito Federal, então tendo a obrigação de receber como capital da nação, entre tantas celebridades, os chefes de outros países que no hipódromo sempre eram recepcionados, mostrando o lado mais importante do turfe de então.
Voltando ao assunto dos livros, quando a opinião do escritor é considerada, apressadamente, maléfica ao turfe e ineficaz, acaba predominando a vaidade e a questão transforma-se em crítica pessoal à alguém, deixando de cumprir a tarefa de ajudar com alguma sugestão que poderia vir a ser boa, acabando por prejudicar o turfe em geral e, conseqüentemente toda a criação em particular. Isto, estamos cansados de explicar à pessoas que perguntam sobre o que vem acontecendo ou querem entender como as coisas funcionam de fato para tudo chegar no caos em que se encontra neste momento. Talvez esta seja uma das razões que originaram os pedidos para que eu aceitasse publicar meu livro. Muitas vezes pensei nisto e certa vez o livro já estava quase pronto, quando resolvia deixar tudo de lado, afinal achava que o passado longínquo vivido aí não bastaria para um maior trabalho, no máximo alguns artigos. Quando esta semana recebi mais um incentivo de um grande editor, o amigo Julio Matano, seguido de muitos outros, depois de publicar um artigo contando com alegria de ter sido lembrado para escrever histórias importantes de um passado glorioso que, muito provavelmente, dificilmente voltará a acontecer com a mesma intensidade, resolvi repensar.
No início cheguei a evitar pensar seriamente, mas depois de rever meus arquivos cheguei à conclusão que este trabalho sairá mais breve do que poderia supor. Só que depois destas últimas palavras recebidas com gratidão, afeto e amizade, vai gerar uma responsabilidade ainda maior do que já havia concebido. Este referido trabalho, honesto e de quem nunca teve nenhuma forma de pressão nem ligação comprometedora com ninguém, fará com que tudo venha a ser autêntico, digno de minha personalidade. Ao mesmo tempo, exigirá, não somente maior precisão, mas também uma sincronização perfeita de dados e assuntos eloqüentes e importantes, sem deixar de ser atrativo e interessante para os eventuais leitores. Por este motivo, logo no início exitei e cheguei a pensar que não teria a mínima importância minha modesta e distante colaboração, já que achava minha trajetória normal, sem maiores histórias e passagens para contar ou mesmo poder analisar a ponto de justificarem qualquer tipo de trabalho em termos históricos. Depois de refletir bem e já tendo em meus arquivos vários esboços engavetados, decidi aceitar este desafio, para deixar minha pequena e modesta participação para servir de consultas de estudiosos no futuro do turfe brasileiro, isto se, por algum milagre ainda vier a ter.
Depois de conversar com Iréne, pude afinal visualizar que a idéia, inicialmente absurda para mim, de publicar minha longa história e diferentes funções que geraram tantas experiências no turfe, não era tão absurda como poderia parecer num primeiro instante. Estas idéias foram já sugeridas há muito tempo por alguns editores europeus, um dos quais, dos mais tradicionais países que promovem corridas de cavalo, visando meu depoimento para ajudar a compor outras publicações que pudessem servir para ajudar no constante melhoramento dos verdadeiros atores que fazem o espetáculo, ou seja, os própios cavalos. Será que aqueles que desde o início de minha existência me fascinaram e me deram razão de viver, poderão mesmo agradar aos verdadadeiros estudiosos? Veremos. Talvez colaborando com brilhantismo na luta por um turfe internacional digno da criação do "Puro-Sangue Inglês" em países civilizados e que respeitam as leis e regras existentes, o trabalho possa ser dignificado. Isto, depois dos últimos dias de incentivo e muita força vindo de verdadeiros catedráticos no ramo. Sendo o idealizador do site Lages Homepage, com a fiel e indispensável colaboração de minha esposa, amiga e companheira há mais de 50 anos, a hipóloga e turfista Iréne Lages, nosso site jamais poderia ser considerado como vem sendo, há mais de 10 anos, um dos melhores existentes sobre o tema na internet. O editor quando sugeriu um livro independente, foi para nós um inesperado, mas muito bem-vindo reconhecimento aos diversos momentos e passagens de nossa vida, de uma forma ou de outra, sempre ligada ao PSI, e também a outros tipos de cavalos. É evidente que, partindo de grandes e consagradas personalidades, especialistas desta complexa atividade, terá um efeito que se transforma em outro sentido, valorizando o resultado da obra, antes mesmo da publicação!
Agora um pouco sobre o que pretendo fazer e algo sobre minhas idéias. Uma delas é entrar na luta para que a vaidade, que é um defeito do caráter humano, ao contrário do orgulho (que quando medido e contido, é aceitável), que tanto tem prejudicado a união que o turfe está
precisando neste crítico momento que está passando em todo o país, seja abolida e varrida entre todos os turfistas interessados em ter um futuro garantido. Isto se ainda tivermos tempo, é a única opção que nos resta a fazer! Esta incômoda situação é um reflexo da crise geral de valores, em vários segmentos da injusta e desumanamente desigual sociedade brasileira, superando com sobras a desigualdade universal, ainda mais acentuada no limiar do Século XXI. Justamente, procuraremos conjugar o esforço de todos para salvar uma relíquia secular, adquirida por diversas gerações de grandes criadores do passado, que não tiveram quase ninguém à altura nestes dias de agonia e profunda depressão dos atuais dirigentes dos hipódromos. Quem está pagando este elevado preço são diversos profissionais de várias atividades deste complexo esporte, que no Brasil é tido por ser apenas jogo para tirar ainda mais do pouco que resta no bolso do cidadão eternamente explorado. É, de fato, o fundo do poço. Um dos últimos suspiros que estava por chegar, infelizmente para a desgraça dos verdadeiros turfistas, que teimam em ainda serem considerados como tal!
Turfe é arte e sobretudo ciência, visando o equilíbrio e o desenvolvimento evolutivo do PSI (para quem ainda não sabe, abreviatura de "Puro-Sangue Inglês"). É exatamente o contrário do que há muito acontece em todo o Brasil. Está mais que evidente, provado e é público e notório, até no exterior, que estes fatos concretos e com números claros, mostram uma involução sem retorno, já acontecendo nas barbas de todo mundo, incluindo os eternos bajuladores dos semi-analfabetos pseudos-doutores com a famosa pinta de professores sem habilitação para exercerem certas funções determinantes para o futuro de tanta gente envolvida neste imenso universo das corridas de cavalos. No fundo, a cultura e o saber passam longe destas figuras meramente decorativas, pondo por fim mais de um século de pesquisas, investimentos e muito trabalho em todas as áreas e segmentos. Antes, estes postos eram ocupados por pessoas com dignidade e conhecimento de causa, tão necessária para se ter uma atividade como exige o turfe.
Todos estes detalhes do infinito mundo dos cavalos de corrida, englobam um universo que vai desde a criação, que começa com o planejamento genético ao escolher a cobertura do reprodutor apropriado para cada égua (que formam o plantel do haras, também conhecidas como matrizes), tratamento dos pastos por agrônomos especializados na área e no clima onde está sediado o campo de criação, escolha do momento e do tempo ideal da doma, que envolve um ótimo critério para a seleção do domador (detalhe muito importante, que mal feito pode botar tudo a perder), atenção veterinária, com veterinário residente (desde o início), momento adequado para iniciar os primeiros galopes, nutricionista de acordo com a filosofia de cada criador, a arte e a técnica do ferrageamento (muitas vezes específico para cada cavalo, dependendo da conformação física e dos cascos de cada potro), trato e manejo diário do cavalariço (que deve ser tranqüilo, entender e passar plena confiança ao cavalo que lhe foi entregue), início dos trabalhos de picadeiro e treinamento ainda na fazenda, já montados para irem se acostumando com diversas situações, até a saída do haras para os leilões ou centros de treinamento. Já nas pistas de corridas ou nos mais modernos centros de treinamento, treinador e jóqueis de plena confiança do proprietário (e, logicamente, do próprio treinador escolhido para esta difícil função de treinar e lapidar um possível diamante), que trabalham e montam nos dias de corrida. Tudo isto, fora os fornecedores de alimentos, remédios e vitaminas, entre tantas e tantas outras atividades e ramos ligados aos diferentes transportes, diversos funcionários que abrangem desde os primeiros registros até as inscrições, etc., etc., que não são, como nem poderiam ser, fáceis de sincronizar. Será que o turfe brasileiro jogará tudo que fez e o sucesso intercontinental conseguido com tanto esforço, em tantas gerações até hoje, fora, como se nada tivesse importância? Esta importância é muito positiva até para conseguir divisas para toda a nação! A Irlanda (Eire) passou a ser um dos países líderes da União Europeia, graças ao seu elevadíssimo nível na criação do PSI.
Pensem e parem um pouco mais para refletir sobre tudo isto, amigos. E aos
turfistas e editores que sempre me incentivaram, meu muito obrigado pelo apoio incontestável e incondicional! Ter meu site ligado ao mundo é uma honra e uma defesa de uma filosofia turfística, com o cavalo e a criação em primeiro plano. Sabemos muito bem que o turfe foi criado para
servir e fomentar a seletividade na criação, visando melhorar o cavalo, tanto no aspecto técnico, como em sua saúde orgânica, na qual está ligada a psíquica e o balanço temperamental. Somente assim pode-se dar aos melhores exemplares, seqüência na reprodução da formação de melhores plantéis, gerando melhores produtos. O resto, ou a inversão de tudo (a criação servindo ao turfe e ainda pior, servindo ao jogo), como certamente vem acontecendo no Brasil já há algum tempo, só poderia terminar desembocando numa nefasta involução, como sempre alertei e narrei acima, irreparável, onde a jogatina vulgar está colocando na sombra os fundamentos que iniciaram com tanto sacrifício esta fascinante atividade, que um dia resultou numa criação que até hoje ainda está, milagrosamente, dando alguns frutos, mesmo numa visível e tão relevante decadência.
Enfim, o turfe, que começou como todos os outros desportes, nobre, neste
caso até nobilíssimo, chamado até hoje, a meu ver, erradamente, de esporte dos reis, foi com o correr do tempo e contando na época com uma eficiente divulgação, existente num passado mais idealista e sincero, ainda bem, gradativamente a ser bastante popular e com acesso a todos. Manteve-se até nivelado, pasmem, com o futebol brasileiro dos anos dourados, então já várias vezes campeão do mundo, conseguindo facilmente se manter pela sua essência, beleza inerente, ajudado por um cenário maravilhoso que o envolve, tudo somado ao universo que engloba todas as suas especialidades. Tudo com firmeza, até quase o final do século 20 (incluindo todos os setores do entretenimento), sendo certamente um dos divertimentos preferidos como há séculos tem sido em tantos países, para de repente, num piscar de olhos, entrar em vertical decadência, deixando os hipódromos, antes superlotados, cada vez com menos público.
Atualmente, em estado que convida qualquer leigo à mais profunda reflexão, está cada vez mais sem sentido e com um enigma insolúvel. A criação, os cavalos e os profissionais continuam de primeira ordem, respectivamente e com inteira justiça, exportados e emigrados, bastante reconhecidos no mundo inteiro, enquanto o turfe no Brasil (a qualidade das corridas e o reflexo na mídia), encontra-se bastante abaixo do que poderia ser chamado, no máximo e com extrema boa vontade, de medíocre. Os hipódromos, antes sempre lotados, foram abandonados, principalmente pelos verdadeiros amantes das corridas em pról do desenvolvimento da criação e da melhora do PSI. Os poucos adeptos que restaram nas arquibancadas e suas dependências, em sua grande maioria, preferindo dar valor à atividade como jogo de azar, um simples e dispensável componente, substituível por qualquer patrocinador de vulto. Se, ao contrário, os responsáveis pelo marketing tivessem investido na mídia liderada por fortes redes de televisões de nível internacional, exatamente como fazem com tanto sucesso nos outros esportes, cada vez mais emergentes e populares, e que, apesar serem igualmente esportes tradicionais, não estão superados pelo tempo como muitos dizem sempre quando se referem ao turfe. Somente para dar alguns exemplos, como simples ilustração, há altíssimos patrocínios muito mais eficientes e saudáveis, no próprio hipismo (salto, adestramento, polo, etc.), no tênis, no golfe e na fórmula 1, hoje bem mais rentáveis e sem a dependência de qualquer tipo de jogatina, que acaba sempre, sistematicamente, corrompendo e degenerando qualquer esporte, como notoriamente tem acontecido e prejudicando hoje até o futebol, este, apesar de defendido com unhas e dentes pela mídia e o dinheiro investido vindo dos quatro cantos do mundo.
Para mim, as "maquininhas" são das coisas mais vulgares deste mundo e não é surpresa para ninguém que são mais atraentes para a juventude menos esclarecida, típica da alienação atual, que só interessa aos poucos que usurparam o dinheiro da rica nação. Aqui na Europa, é uma vergonha a pessoa esbanjar dinheiro em país numa situação como ficou o Brasil, desprotegido por quem é muito bem pago para cumprir esta missão pelo dinheiro do fisco, que são conseguidos pelos altos impostos com a finalidade de dar segurança, mas que não conseguem nem conter a violência do dia a dia. Os políticos eleitos com programas e promessas, mudam de "camisa" de acordo com o vento, seguindo a situação mais conveniente, enquanto mais da metade da população vive na miséria. Faço uma pergunta: será normal, com o avanço tecnológico de nossos dias, as informações de utilidade e de interesse público, com acesso momentâneo e rápido sobre qualquer assunto serem menos populares que os jogos na internet? Cada um tem sua opção, escolhe o que bem entender, mas, para dar meu próprio exemplo, tenho o salutar orgulho de nunca, em toda a minha vida, ter gostado de jogo e jamais joguei nem um centavo que seja (quem me conhece sempre pôde perceber e atestar), nem mesmo em corridas de cavalo que freqüento desde que me dei por gente.
Quando se tem tanta informação disponível, uma pessoa de bom senso deveria pensar muito pouco tempo para escolher o óbvio, a pesquisa e a informação existente quando usa a rede, procurando o conhecimento que é fácil obter com rapidez e atualidade pela internet. Afinal, só um idiota ou doente mental aceita jogar seu dinheiro para sustentar sua existência justamente contra o banqueiro! Ainda mais grave e masoquista, tendo a experiência de perder e com a eterna e altíssima probabilidade de continuar a perder. Isto ninguém precisa ser gênio, tampouco inteligente para saber. Nas mais modernas pesquisas do cérebro sobre vícios, o jogo é equivalente ao alcoolismo ou ao dependente de drogas, uma doença que exige sério tratamento. Portanto o turfe tem a obrigação moral e administrativa de procurar outra forma de sobrevivência, já que o jogo nunca foi a razão de sua criação e de sua existência através de séculos. Um erro grosseiro de quem sempre pensou assim.
Com os hipódromos cada vez mais vazios, abandonados, deixando seus fabulosos cenários, que um dia já foi o principal cartão de visitas de cada cidade brasileira, inteiramente às moscas e, no caso do Brasil e países tropicais, até às baratas, a única esperança dos turfistas por excelência, é uma pálida, mas sombria, chance de união.
Muito obrigado a todos que me escreveram incentivando a finalmente publicar o livro, pelas sinceras palavras em suas mensagens para este vosso amigo, que pensa e adora o cavalo como vocês. Como o meu passado no turfe foi rico e não o troco por nada, já estou há algum tempo escrevendo o livro, que de resto, será muito mais interessante e positivo que este modesto e pessimista artigo. Vosso incentivo foi ainda mais determinante e, depois de tantas mensagens e telefonemas, seria injusto citar qualquer nome, já que para mim e minha digníssima esposa Iréne, todos são iguais e merecem a mesma consideração que tiveram com nossa iniciativa. Também não queremos, nem gostaríamos se citássemos pessoas que apoiam ou sempre apoiaram, de esquecer alguém. Assim, fora o Julio Matano, que originou a explicação sobre o breve lançamento de um livro sobre a história de nosso turfe, não vamos correr o risco de citar nenhum nome. O Julio Matano, citado por ter originado a idéia do artigo, representará e terá o mesmo valor de todos os outros. O nosso agradecimento e amizade é para todos, sem distinção. ESTA COLUNA ESTÁ ATUALIZADA ATÉ
LUIZ EDUARDO LAGES
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