REENCONTRO COM MEU VELHO AMIGO PARADA

O REENCONTRO COM MEU VELHO AMIGO PARADA, CRAQUE DO BANGU, BOTAFOGO,
PALMEIRAS E SELEÇÃO BRASILEIRA!

por LUIZ EDUARDO LAGES


Parada e Luiz

Antônio Parada Neto e Luiz Eduardo Lages no reencontro depois de cerca de meio século. Foram relembrados e revividos os bons tempos do Bangu da década de 1960!

 

LUIZ EDUARDO LAGES

LUIZ EDUARDO LAGES

Minha visita ao grande Parada, referência no time do Bangu dos anos 60!

Tendo vivido e convivido, concentrado todo o fim de semana com o elenco principal do Bangu Atlético Clube, nos anos 60, na tradicional Vila Hípica, que ficava perto de Moça Bonita, no simpático bairro de Bangu, na Zona Oeste, com o excelente time do glorioso Bangu Atlético Clube, à convite do próprio Castor de Andrade e do técnico Elba de Pádua Lima, o Tim, aprendi os verdadeiros fundamentos da estratégia de jogo. Segundo Pelé e Maradona, para citar, talvez, os melhores futebolistas de todos os tempos, Tim foi o maior estrategista da época e até hoje um dos maiores que tivemos no futebol nacional e internacional. E eles não chegaram a ser dirigidos pela "raposa", como Tim era conhecido, por saber vencer uma partida através de uma estratégia, às vezes improvisada no intervalo, que virava o jogo, mas, tanto Pelé, como Maradona, estudaram e conheciam seu trabalho, já que ele treinou e foi campeão montando e dirigindo equipes brasileiras e argentinas.

Estes fundamentos de uma estratégia, que jamais foi ultrapassada por possuir várias alternativas no decorrer de cada partida, tinham este requinte graças aos jogadores que meu velho e saudoso amigo tinha no próprio plantel do clube, tendo ele apenas complementado, muito bem, com peças que foram importantíssimas, entre as quais, ressaltava-se o Parada. Tim veio buscar jogadores que ele conhecia e que estavam prestes a mostrar seus valores e os trouxe para o Bangu. Com o aval do Castor, que não media sacrifícios, o Bangu pôde adquirir o passe de cada um. O elenco foi montado e eu, depois de ver o time na segunda rodada do campeonato carioca de 1963, que terminou com uma convincente vitória do Bangu sobre a Portuguesa por 3x0 em General Severiano, com dois golaços do Parada, escrevi uma longa carta para o Tim explicando o que notara. Ele gostou tanto que leu minha carta para o grupo numa preleção e pediu ao Comandante Celso Franco (que foi durante anos chefe do serviço de trânsito no Rio de Janeiro e, antes disso, colega de meu pai na Marinha), para me convidar a ir lá. Celso era diretor conceituado do clube, filho do Ministro Ary Franco, além de um grande amigo, tanto do Castor, quanto do Tim. Quando cheguei, Tim disse que gostara da maneira como eu via o futebol. Na época com 16 anos, eu disse à ele que somente estava começando a notar tudo que era relacionado à tática de jogo. E estava satisfeito com o Bangu, clube que eu, como fiel amante do esporte, sempre fui torcedor, observador e apreciava desde criança. Quando agradeci a estada na concentração numa véspera de jogo contra o Flamengo, recebi do "El Peón", como Tim era conhecido na Argentina por driblar para todos os lados, sem ninguém quase nunca poder tirar-lhe a bola, um convite para, se quisesse, ficar lá e aprender de perto. Poderia dormir na concentração, que era na Vila Hípica, ir ao jogo no ônibus com o time e ficar com ele na boca do túnel. Prontamente aceitei e, a partir daí, passei a ver todos os jogos da "boca do túnel", ao lado do mestre, inclusive no Torneio Rio-São Paulo, o máximo que havia por pontos corridos, de prestígio, para os grandes clubes do eixo Rio-São Paulo. O Bangu, com sua bela campanha, tirou o lugar do America (isto mesmo, America sem acento agudo na letra e, como é registrado o America carioca desde 18 de setembro de 1904). Ficou assim com esta grafia e é até hoje registrado com o nome inteiro em inglês, America Football Club e não América Futebol Clube como provavelmente poderia ser grafado se fosse registrado nos dias de hoje.

No Bangu, com meu temperamento, soube respeitar e entender bem o que é ter dois ouvidos e uma boca, o que, para mim, surpreendentemente me fez popular com todo mundo, inclusive com os diretores da época, entre os quais o Castor de Andrade, vice-presidente, filho de Euzebio de Andrade, presidente do clube. Assim, fui logo muito bem recebido, sendo, obviamente, agradecido até hoje. Se sempre havia sido um dos clubes que mais tinha simpatia, todo meu sentimento foi plenamente ratificado. Castor, que morando em Copacabana, gentilmente passava no Jardim Botânico para que eu pudesse toda vez que o time se concentrasse, com mais facilidade e praticidade, ir para Bangu a convite dele e do Mestre Tim, foi fundamental, uma vez que era quem estava à frente do clube, com um entusiasmo e procedimento muito dinâmicos, diferentemente dos diretores de então. O resto, que é muito mais, ficará para o dia que eu sentir que devo passar para um livro, quando deverei entrar nos diferentes sistemas táticos que tanto sucesso fizeram, marcando aquela época. Uma experiência que até Parreira e Zagalo me disseram que foi um privilégio e que gostariam de ter tido. Em tempo, os dois, quando empossados no comando da Seleção que viria a conquistar o tetracampeonato, quando chegaram à Estocolmo, Suécia, para estudar alguns dos eventuais adversários que certamente teriam na Copa do Mundo de 2002, não tinham os bilhetes prometidos pela CBF. Estes bilhetes (entradas especiais) deveriam já estar no Hotel Scandic, lugar bucólico no centro de Estocolmo, onde ficariam e ficaram hospedados. Como vocês devem saber, a Suécia foi a anfitriã da Copa da Europa de 1992. Como pode o então Presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que pagou as suas respectivas passagens, esquecer de exigir as entradas ao Senhor Lagrell, Presidente da Federação Sueca (sic)? Pois bem, Parreira e Zagalo receberam as entradas porque eu pedi, por telefone mesmo, ao honrado Presidente da Federação Sueca de Futebol, que atenciosamente enviou os bilhetes para o hotel.

Saindo e conversando em Estocolmo durante a Copa da Europa com Parreira (treinador do Brasil, naquela época) e Zagalo (coordenador), este que desde 1958 quando foi transferido como jogador do Flamengo para o Botafogo me conhecia (portanto desde quando eu era um menino de 11 anos), nos divertimos muito. A Suécia, diga-se de passagem, é um modelo de nação, sendo universalmente conhecida como a parte da Europa mais desenvolvida, particularmente em termos de bem-estar social, além de ter uma população exemplar por respeitar a privacidade de cada um. Assim, puderam os dois ilustres conhecidos rever Estocolmo e algumas outras cidades importantes do universo escandinavo, durante a Copa da Europa de Nações. Eles, Parreira e o Velho Lobo, tiveram o tratamento que sempre mereceram dos suecos, o que facilitou o início do trabalho da dupla no vitorioso caminho para o tetracampeonato. Pois bem, antes de voltarmos ao Bangu, para retornarmos ao Parada, ambos tetracampeões (Parreira e Zagalo), estrategistas do Brasil em 1994, têm o Tim como um grande treinador de nossa história e reafirmaram (como dito acima) que minha experiência no Bangu dos anos 60 foi ótima, chegando a dizer que Tim foi o divisor de águas entre o "treinador entregador de camisas" e o treinador estrategista.

Enfim, recapitulando os fatos, o Bangu tinha nos anos 1950 e principalmente durante a década de 1960, um dos melhores elencos do futebol brasileiro e sul-americano, assim sendo, do mundo inteiro. Tenho reencontrado, nesta passagem por São Paulo, velhos amigos que faziam parte daquele timaço. Os anos 50 e 60 também fizeram parte dos anos dourados de nossa história, através do futebol. Não por coincidência, foi quando o Bangu disputou palmo a palmo o título de Campeão, que acabou conquistando em 1966 e chegado entre os três primeiros quase todo ano, fosse no Estadual, fosse nos outros campeonatos que disputou, como o Rio-São Paulo. Parada foi o craque banguense, referência da equipe a partir de 1963, justamente em sua primeira temporada no Bangu.

Antônio Parada Neto, nome completo do craque Parada, nasceu em Araraquara, em 20 de fevereiro de 1939. Começou no Clube Atlético Ypiranga (mesmo clube que, bem antes dele, havia revelado Moacir Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira, vice-campeã do mundo de 1950). Depois, pela ordem cronológica, atuou pelo Juventus (tradicional clube da Mooca), Palmeiras (onde se profissionalizou), Ferroviária de Araraquara, chegando ao Bangu em 1963. Brilhou nos campeonatos cariocas de 1963, 1964 e 1965 com o alvirrubro carioca (que terminou o campeonato carioca em terceiro, segundo e novamente segundo, respectivamente), transferindo-se para o Botafogo em 1966, onde foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, título dividido com o Vasco da Gama, Corinthians e Santos. Esteve na Seleção Brasileira entre os 47 convocados na preparação para a Copa do Mundo de 1966, onde o Brasil tentou defender seu título de bicampeão na Inglaterra. Posteriormente jogou em Manaus, antes de encerrar a magnífica carreira voltando ao Bangu.

Vejam na foto comigo, o craque com todas as letras Parada, e Arruda, este que foi muito bom jogador do Botafogo e do América, entre outros respeitados clubes do eixo Rio-São Paulo. Quando o Arruda falou para o Parada que eu estava em São Paulo, ele me convidou para visitá-lo. Um encontro de amigos que não se viam há quase 50 anos, mas que nunca esqueceram daqueles tempos... O restaurante que aparece na foto, pertence a sua filha, que gerencia o bom funcionamento.

Parada leva uma vida tranquila, mora em Bom Retiro (como sempre, desde a infância), está muito bem de saúde, assim como financeiramente. Vocês que o viram jogar podem e irão gostar de reconhecê-lo nas duas fotos que escolhemos. Outro meu bom amigo, o renomado historiador e pesquisador, Ivan Soter, que tem diversas obras publicadas sobre a gloriosa história do futebol brasileiro, entre elas duas edições intituladas "A Enciclopédia do Futebol Brasileiro" viu as fotos do meu reencontro com o Parada e me disse que o Parada está fininho, o que significa tinindo, e que se dessem uma bola para ele, logicamente ele saberia o que fazer com ela, como sempre soube.

Foi um encontro dos tempos do grande e eterno Bangu, time que me acolheu em sua melhor época e que fez eu ver o futebol com outros olhos.


Arruda, Parada e Luiz Eduardo Lages

Arruda, Parada e Luiz Eduardo Lages

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CRÔNICA INTITULADA "DOMINGOS DA GUIA E SEU FILHO ADEMIR, ORGULHOS DA ESCOLA DO BANGU", ESCRITA EM 8 DE ABRIL DE 2013,
AUTORIA DE LUIZ EDUARDO LAGES

 

A SELEÇÃO DE LUIZ EDUARDO LAGES DO BANGU ATLÉTICO CLUBE

DE TODOS OS TEMPOS (NÚMERO DA CAMISA ENTRE PARÊNTESES):

UBIRAJARA (C) (1);

FIDÉLIS (2), DOMINGOS DA GUIA (3), ZÓZIMO (4), ARI CLEMENTE (6);

FAUSTO DOS SANTOS (5), ADEMIR DA GUIA (10);

ZIZINHO (8);

PAULO BORGES (7), PARADA (9), ALADIM (11).

TÉCNICO: TIM (Elba de Pádua Lima).

OBSERVAÇÃO: 8 jogadores desta seleção banguense, a saber: UBIRAJARA, FIDÉLIS, DOMINGOS DA GUIA (terceiro colocado na III Copa do Mundo, primeira colocação oficial do Brasil no Campeonato do Mundo), ZÓZIMO (bicampeão do mundo pelo Brasil nos dois primeiros títulos mundiais absolutos, defendendo a seleção brasileira principal como reserva de Orlando, na VI Copa do Mundo, realizada na Suécia em 1958 e defendendo este título vigente, ou seja, como atual campeão do mundo, obtido quatro anos antes na Suécia, desta vez, na VII Copa do Mundo, como titular absoluto, jogando todos os jogos do bicampeonato desta gloriosa VII Copa do Mundo de 1962, realizada no Chile. Zózimo, em ambos os títulos seguidos de Campeão Mundial pelo Brasil, era jogador do Bangu, onde jogou durante tantos anos com total eficiência). Dando sequência, FAUSTO DOS SANTOS, ADEMIR DA GUIA (quarto colocado na X Copa do Mundo, defendendo o Brasil, nesta edição levada a efeito na Alemanha Federal, então também conhecida como Alemanha Ocidental), PAULO BORGES e ALADIM. Todos estes 8 jogadores, sem excessão, são produtos e foram revelados pela gloriosa escolinha de futebol do Bangu! Os outros três, a saber, Ari Clemente, Zizinho e o craque Parada, apesar de terem vindo depois de passarem por outros clubes, atingiram seu apogeu na tradicional agremiação alvirrubra da Zona Oeste. Zizinho, o maior craque da história do Bangu, foi considerado o melhor jogador da Copa do Mundo de 1950 representando na seleção brasileira o Bangu Atlético Clube e, mais que isto, foi considerado pela crônica internacional e pela FIFA o melhor jogador do planeta depois do vice-campeonato mundial conquistado pelo Brasil naquele ano. Por tudo, Zizinho está nesta seleção de Luiz Eduardo Lages, hipoteticamente, numa posição livre para atuar dentro do campo, num sistema 4-2-1-3, configuração que pode sempre ser variada de acordo com cada adversário, dependendo também das circunstâncias de cada partida.

Em tempo, destes supercraques nesta seleção de ilustres banguenses, vale citar algumas alcunhas que ficaram famosas internacionalmente como Domingos da Guia, "o divino mestre", Ademir da Guia, seu filho, "o divino", Zizinho, "mestre Ziza" e Fausto dos Santos, "a maravilha negra", esta dada na Europa quando de sua passagem pela Espanha, brilhando no Barcelona. De notar também que todos na seleção do Bangu Atlético Clube, de Luiz Eduardo Lages (quem vos escreve), estiveram e serviram com sucesso à seleção principal do Brasil. Quanto ao capitão do time, não resta a mínima dúvida: Ubirajara! Com a visão que sempre teve do campo inteiro, com calma para pensar e interagir, não foi por acaso que exerceu esta função por tanto tempo no Bangu, inclusive no indiscutível título de 1966, quando o alvirrubro, gigante da Zona Oeste, pulverizou todos os adversários, mostrando ao longo daquele campeonato dos "anos dourados", uma superioridade incontestável.

 

 

TEXTO DE LUIZ EDUARDO LAGES

jornalista, cronista e historiador

 

Bangu Atlético Clube

BANGU ATLÉTICO CLUBE

FUNDADO EM 17 DE ABRIL DE 1904

(Rio de Janeiro - Brasil)

 

Copyright © LUIZ EDUARDO LAGES

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