DOMINGOS DA GUIA E SEU FILHO ADEMIR, por LUIZ EDUARDO LAGES
LUIZ EDUARDO LAGES
Ademir da Guia, filho e herdeiro do divino Domingos da Guia, logo divino também, são craques incomparáveis do futebol brasileiro e mundial, oriundos da consagrada escola do Bangu Atlético Clube. Domingos foi considerado o melhor zagueiro do mundo em sua época. Limpava a área e saía jogando, dizia meu saudoso amigo Tim, quando, um belo dia antes dos jogos, morávamos na concentração do Bangu, na bucólica Vila Hípica de Moça Bonita. Estávamos no longínquo ano de 1963, quando ele começou a montar o timaço do clube que viria a ser campeão carioca de 1966, sob o comando de Alfredo Gonzales, e conquistar diversas colocações de vulto, disputando palmo a palmo todos os torneios que participava, no Brasil, na Europa e em diversos lugares do planeta. Elba de Pádua Lima, o Tim, como era conhecido, foi igualmente um dos maiores nomes do futebol mundial, tanto como jogador, como técnico de ponta, mas, sendo criterioso e de poucas palavras, não era de elogiar qualquer um. Havia jogado contra e do lado do Divino Mestre. Com saudade na expressão e nos olhos de seu tempo de jogador dizia, "Domingos tomava a bola de meus pés sem eu sentir. Quando via, ele estava saindo com ela dominada". E logo o Tim, conhecido na Argentina quando jogava como "El Peón" porque poucos conseguiam tirar a bola de seus pés. Tinha a honra de ter sido companheiro de Domingos na seleção brasileira que conquistou o honroso terceiro lugar no III Campeonato Mundial disputado na França, em 1938, justamente a primeira colocação do Brasil em Copas do Mundo, anunciando o princípio do sucesso que estaria por vir com o decorrer do tempo, com nossa seleção posteriormente atingindo a hegemonia absoluta do futebol mundial, que mantém até hoje, como único detentor do título de pentacampeão do Mundo. Domingos da Guia era elogiado pelo grande Tim, assim como todos que o viram jogar, de jornalistas aos mais assíduos torcedores que tiveram o privilégio de viver aquela época. Domingos e Ademir da Guia foram formados na escola banguense, celeiro de craques, uma fábrica de grandes jogadores. De fato, fazem parte do vasto patrimônio do Bangu! Jogavam limpo, com uma técnica perfeita, verdadeiros recitais de como atuar com classe, eficiência e dignidade. Ademir da Guia, que tive o prazer de ver de perto, foi como jogador um mestre, quase no mesmo nível que o bicampeão do mundo Didi (1958 e 1962) e o fantástico Gérson, "o canhotinha de ouro", um dos expoentes do imbatível time que em 1970 conquistou o terceiro campeonato mundial para a nossa seleção, tida como a maior equipe de futebol de todos os tempos. Ademir poderia igualmente ter estado nesta equipe de 1970 que o resultado teria sido o mesmo! Um time que esteve perfeito individualmente e sobretudo coletivamente, vencendo todas as seis partidas das eliminatórias e todas as seis partidas dos jogos finais, exibindo um futebol objetivo, com muita classe e lindo de se ver, com autoridade e seriedade, muitas vezes se impondo com goleadas homéricas, culminando por derrotar as duas equipes que tinham dois títulos e, juntamente com o Brasil, eram candidatas à "Copa Jules Rimet" em definitivo, que eram o Uruguai (3x1 para o Brasil na semifinal) e a Itália (goleada pelo Brasil por 4x1 na finalíssima). Isto, entre outras coisas, depois de vencer os atuais campeões do mundo na época, a poderosa Inglaterra, que defendia o título conquistado em Londres, na Copa de 1966, por 1x0 (um gol antológico de Jairzinho, onde o time todo jogou com ou sem bola, com deslocamentos jamais vistos, um verdadeiro lançamento do "futebol total" no mundo). Este feito foi já no segundo jogo das partidas do grupo da fase inicial, tendo mostrado ao mundo um futebol maravilhoso. Esta pequena narração mostra como foi difícil escolher os vinte e dois jogadores e o grande craque Ademir da Guia fez parte antes da Copa dos planos da Comissão Técnica com muita chance de ter feito parte da delegação desta equipe que tantas alegrias nos deu e até hoje ainda nos dá, afinal recordar é viver... Dentre os nossos cinco títulos mundiais conquistados brilhantemente pelos brasileiros, esta seleção tricampeã, que trouxe para o nosso país, em definitivo, a "Copa Jules Rimet" e dando-se ao luxo de não convocar o fantástico Ademir, da clássica família Da Guia, de exímios futebolistas, era o supra-sumo do escrete nacional de todos os tempos. Foi o tópico e a síntese de nossa história no esporte-rei até hoje! Mesmo assim, apesar de tudo, até os dias atuais não entendi como teve poucas chances no escrete nacional. Evidentemente, quem perdeu foi a seleção brasileira. Tanto o pai, o Divino Mestre, como os membros da família Da Guia, só poderiam mesmo ser do berço do futebol carioca, onde o esporte-rei começou na nossa cidade, no glorioso bairro de Bangu, no centro geográfico do Rio de Janeiro, a nossa Cidade Maravilhosa. Por todo o conjunto de tudo aqui exposto, sobretudo pela história da família Da Guia, além do que é explicável e da paixão pelo esporte que não se precisa explicar, que tenho o prazer de escrever esta crônica. É uma singela, mas correta homenagem, aos craques que foram produtos clássicos da consagrada escola do Bangu Atlético Clube! TEXTO DE LUIZ EDUARDO LAGES jornalista, cronista e historiador
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SEÇÃO ALTERNATIVA DO BANGU ATLÉTICO CLUBE A SELEÇÃO DE LUIZ EDUARDO LAGES DO BANGU ATLÉTICO CLUBE DE TODOS OS TEMPOS (NÚMERO DA CAMISA ENTRE PARÊNTESES): UBIRAJARA (C) (1); FIDÉLIS (2), DOMINGOS DA GUIA (3), ZÓZIMO (4), ARI CLEMENTE (6); FAUSTO DOS SANTOS (5), ADEMIR DA GUIA (10); ZIZINHO (8); PAULO BORGES (7), PARADA (9), ALADIM (11). TÉCNICO: TIM (Elba de Pádua Lima). OBSERVAÇÃO: 8 jogadores desta seleção banguense, a saber: UBIRAJARA, FIDÉLIS, DOMINGOS DA GUIA (terceiro colocado na III Copa do Mundo, primeira colocação oficial do Brasil no Campeonato do Mundo), ZÓZIMO (bicampeão do mundo pelo Brasil nos dois primeiros títulos mundiais absolutos, defendendo a seleção brasileira principal como reserva de Orlando, na VI Copa do Mundo, realizada na Suécia em 1958 e defendendo este título vigente, ou seja, como atual campeão do mundo, obtido quatro anos antes na Suécia, desta vez, na VII Copa do Mundo, como titular absoluto, jogando todos os jogos do bicampeonato desta gloriosa VII Copa do Mundo de 1962, realizada no Chile. Zózimo, em ambos os títulos seguidos de Campeão Mundial pelo Brasil, era jogador do Bangu, onde jogou durante tantos anos com total eficiência). Dando sequência, FAUSTO DOS SANTOS, ADEMIR DA GUIA (quarto colocado na X Copa do Mundo, defendendo o Brasil, nesta edição levada a efeito na Alemanha Federal, então também conhecida como Alemanha Ocidental), PAULO BORGES e ALADIM. Todos estes 8 jogadores, sem excessão, são produtos e foram revelados pela gloriosa escolinha de futebol do Bangu! Os outros três, a saber, Ari Clemente, o fenomenal Zizinho e o craque Parada, apesar de terem vindo depois de passarem por outros clubes, atingiram seu apogeu na tradicional agremiação alvirrubra da Zona Oeste. Zizinho, o maior craque da história do Bangu, foi considerado o melhor jogador da Copa do Mundo de 1950 representando na seleção brasileira o Bangu Atlético Clube e, mais que isto, foi considerado pela crônica internacional e pela FIFA o melhor jogador do planeta depois do vice-campeonato mundial conquistado pelo Brasil naquele ano. Por tudo, Zizinho está nesta seleção de Luiz Eduardo Lages, hipoteticamente, numa posição livre para atuar dentro do campo, num sistema 4-2-1-3, configuração que pode sempre ser variada de acordo com cada adversário, dependendo também das circunstâncias de cada partida. Em tempo, destes supercraques nesta seleção de ilustres banguenses, vale citar algumas alcunhas que ficaram famosas internacionalmente como Domingos da Guia, "o divino mestre", Ademir da Guia, seu filho, "o divino", Zizinho, "mestre Ziza" e Fausto dos Santos, "a maravilha negra", esta dada na Europa quando de sua passagem pela Espanha, brilhando no Barcelona. De notar também que todos na seleção do Bangu Atlético Clube, de Luiz Eduardo Lages (quem vos escreve), estiveram e serviram com sucesso à seleção principal do Brasil. Quanto ao capitão do time, não resta a mínima dúvida: Ubirajara! Com a visão que sempre teve do campo inteiro, com calma para pensar e interagir, não foi por acaso que exerceu esta função por tanto tempo no Bangu, inclusive no indiscutível título de 1966, quando o alvirrubro, gigante da Zona Oeste, pulverizou todos os adversários, mostrando ao longo daquele campeonato dos "anos dourados", uma superioridade incontestável. TEXTO DE LUIZ EDUARDO LAGES jornalista, cronista e historiador
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